quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Análise Reticular do Discurso

Nas últimas duas semanas vimos ferramentas de análises de textos. A primeira era CMaps. Trata-se de um software de trabalho colaborativo que permite realizar mapas conceituais. Uma de suas utilidades é poder visualizar uma rede de argumentação desde suas causas a suas conseqüências. É útil para organizar nosso próprio discurso e para fazer uma análise logico de um texto. Mais do que uma técnica de pesquisa é uma ferramenta para pesquisar.
Uma outra ferramenta é Fremind. Freemind serve para criar esquemas conceituais, e para elaborar e ordenar tipologias. Por exemplo este esquemas de algumas possibilidades do software Visone.

O software Visone é uma ferramenta para representar redes (nome matematico: grafos. A novidade deste software com respeito a outros, como por exemplo Ucinet, é que a rede se elabora desenhando-a, não a partir de matrizes, e que os resultados da análise também se podem visualizar modificando as características da rede (a forma de seus links, nodos ou a colocação destes).
Visone foi criado para pesquisar redes sociais, mas uns anos atras se começou a utilizar para uma técnica específica da Análise Reticular de Dados Textuais (ou do Discurso). Esta técnica aplica a Teoria Argumentativa da linguagem.
A Análise Reticular do Discurso ainda não é conhecido em Brasil (ou utiliza um outro nome...) e a nível mundial sua aplicação a textos jornalísticos é muito recente. A análise com Teoria Argumentativa ainda não se utilizou na comunicação (pelo menos eu não conheço).

Os linkes são em espanhol. Se encontram material em português, por favor, indicai-o nos comentários.

  • Relaciones, redes y discurso: revisión y propuestas en torno al análisis reticular de datos textuales

  • Análisis de Redes textuales utilizando Teoría Argumentativa de la Lengua.

    Um resumo da Teoria Argumentativa:
    A Teoria da Argumentação na Língua surge em França a partir das investigações de Oswald Ducrot, quem, influenciado por John Austin, crítica a delimitação da semântica como o estudo das condições para valer dos enunciados, em base ao fato de que ditos enunciados só comunicariam proposições como representações de estados do mundo. A Teoria da Argumentação se aparta do princípio segundo o qual a realidade constitui a base do significado e procura atribuir-lhe ao significado uma base exclusivamente lingüística. Em primeiro lugar, cabe assinalar que não se trata aqui de uma argumentação no sentido tradicional, segundo a qual há argumentação quando um discurso apresenta um segmento A como justificativa de outro segmento C ou conclusão. Neste sentido, o segmento A apresenta um feito H, susceptível de ser verdadeiro ou falso que se relaciona com C. Essa relação é de ordem lógico, psicológico, sociológico ou de outro ordem, mas não lingüístico. Na Teoria da Argumentação na Língua de Anscombre e Ducrot (1994), pelo contrário, a argumentação está muito unida à forma lingüística. Existem expressões que têm, por si mesmas, um valor argumentativo que se impõe aos enunciados nos que aparecem. Esse valor argumentativo é o que permite distinguir entre dois enunciados que apresentam quiçá o mesmo fato (têm o mesmo valor factual), mas que, no entanto, dão lugar a conclusões diferentes. Para estes autores não se argumenta com a língua senão nela, já que são os próprios elementos lingüísticos os que imprimem sua significação ao discurso. Nesta teoria, propõe-se que a significação das frases de uma língua contém uma série de instruções que orientam ao destinatário do discurso em sua busca das conclusões implicadas pelo locutor. Assim mesmo, Ducrot introduz a noção de 'topos', princípio argumentativo tomado de Aristóteles, com algumas modificações. Aristóteles considerava ao 'topos' como uma espécie de fonte onde o orador podia obter toda classe de argumentos para defender suas teses. Em seu livro Os Tópicos, o filósofo faz uma lista de argumentos possíveis, úteis para qualquer orador. Para Ducrot um 'topos' é um princípio argumentativo, não um conjunto qualquer de argumentos, que atua como fiador para assegurar o passo do argumento à conclusão. Basicamente, os 'topoi' são conhecimentos compartilhados por uma comunidade, num momento dado, que contribuem a estabelecer conexões entre determinados fatos e que compartilham as seguintes características:
    1) são comuns ou compartilhados por uma comunidade ou, mais bem, apresentam-se como aceitados por uma coletividade da que faz parte a pessoa assimilada com o enunciador, como uma crença compartilhada por uma multidão de pessoas;
    2) são princípios gerais, apresentados como válidos não só na situação da que se fala, senão numa infinidade de situações similares; e
    3) os 'topoi' são graduais, pois põem em relação duas escalas (por suposto tambem graduais), a de um antecedente P com um conseqüente Q. Essa relação é gradual, já que a argumentação pode fincar pé no aspecto mais ou menos forte do argumento ou mais ou menos fraco da conclusão. Ditas relações graduais são as escalas argumentativas que organizam hierarquicamente os argumentos segundo a força que tenham. Por exemplo, ser muito trabalhador está na mesma escala argumentativa de ser algo trabalhador; o que os diferença é que ser muito trabalhador tem maior força argumentativa do que ser algo trabalhador.
    Outro elemento importante da Teoria em referência é o da 'orientação argumentativa', que se relaciona com a direção que tomam os argumentos de um enunciado. Assim, dois argumentos estão co-orientados argumentativamente se ambos levam à mesma conclusão, por exemplo:
    Faz bom tempo. Vamos à praia.
    Resulta natural associar a idéia de "bom tempo" com a de "ir de passeio ou à praia". Em mudança, os argumentos antiorientados nos levam a conclusões contrárias.

      Traducido dum texto de Claudia Herczeg (Universidad de Chile, Facultad de Filosofia y Humanidades, 2004)



    Texto para análise (Folha de São Paulo):

    Dilemas do PSDB

    BRASÍLIA - Na oposição, o PT do Lula metia a lenha em tudo do governo tucano. No governo, o Lula do PT faz tudo igual e ainda aprofunda o que antecessor tucano fazia. O dilema tucano é: como combater suas próprias criaturas?
    Se o PSDB articula a votação contra a prorrogação da CPMF, está negando o passado. Foi o governo FHC quem transformou o imposto provisório em contribuição permanente "da saúde".
    Se vota contra a entrada da Venezuela no Mercosul, como fez ontem na Câmara junto com o DEM e o PPS, também está negando o passado. Foi o governo FHC quem selou a forte aliança dos dois países. A reviravolta só começou em 2002, quando o então candidato José Serra bateu em Chávez na tentativa -de resto, inútil- de marcar posição no cenário internacional.
    Nos dois casos, da CPMF e da Venezuela, o PSDB ficou num beco sem saída, pois o contrário seria um desastre político. Continuar sentando à mesa com ministros de Lula e afinal dar de bandeja a bolada de R$ 40 bi da CPMF aos cofres do governo em 2008, ano eleitoral, seria dar os ovos na boca da raposa. E votar a favor da Venezuela no Mercosul seria badalar a política externa de Lula, que enaltece Chávez como companheiro democrático, útil para as exportações brasileiras de manufaturados e fundamental ao Mercosul.
    Nos dois casos, o PSDB está sem alternativa e debate-se febrilmente entre ser coerente ou votar politicamente e como oposição. Os tucanos deixaram seu programa e suas bandeiras escorrerem pelos dedos para Lula, e, agora, bater no governo é bater no que eles próprios criaram.
    Não é o caso de "toma que o filho é teu". É deles -do PSDB, embalado e engordado por Lula. Como dizia Pedro Malan, tudo é "um processo". Lula se beneficia do processo. O PSDB vagueia sem rumo, tentando ser oposição sem poder ser.
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